No momento em que a atriz Angelina Jolie, 37 anos, retira as duas
mamas (dupla mastectomia) para diminuir o risco de ter câncer de mama após ter
feito um teste genético (é um teste para detectar mutações de genes que podem
aumentar o risco da doença e que custa R$ 6 mil e só está disponível, por
enquanto, em clínicas e hospitais particulares), e
que sua tia morre, domingo passado, 26, em função da doença, depois de 6 anos
da morte de sua mãe por câncer de ovário, lembrei de algumas mulheres muito
especiais que entrevistei ao longo de minha trajetória na área de comunicação e
educação em saúde. Mulheres lindas, fortes e com as quais aprendi e aprendo muito.
Compartilho com vocês...
Atemoriza.
Arrepia dos pés à cabeça. Essa é a sensação que ouvi de muitas mulheres que já entrevistei
sobre câncer de mama.
O primeiro sentimento
é de revolta e incredulidade. “Por que eu fui escolhida? O que eu fiz de mal?
Não mereço isso! Não pode estar acontecendo comigo. Logo agora?”.
Num segundo
momento o difícil é aprender a lidar com a inconstância. Um dia acorda até
animada, querendo vencer tudo. Noutro, tá deprimida que não quer nem levantar
pra tomar café. Muito menos para mais uma sessão de quimioterapia.
Isaura (que conheci aos 52 anos) fez questão de dizer ao médico e à família
que queria continuar trabalhando. Advogada num escritório paulista, com
carreira respeitada pelo chefe, conseguiu compreensão e solidariedade no
trabalho. Um dia, colocava a peruca (bem parecida ao cabelo original – que já
havia caído pelo tratamento) e ia firme para uma reunião. Dois dias depois, com
náuseas e muito enjôo, nem conseguia levantar da cama. Ao olhar-se no espelho: “O
que tá acontecendo comigo? Não me reconheço mais!”...
· Não
se reconhece porque a mulher workaholic
nunca se permitiu a isso. Ficar em casa em plena quarta-feira! Mas, é preciso
reconhecer que passou de uma condição de pessoa saudável para a de uma pessoa
doente. E que isso é uma fase. Nova, certamente. É um momento de aprender a se
respeitar, a respeitar os próprios limites, saber que é um momento em que altos
e baixos farão parte do período.
Outro sentimento
comum compartilhado pelas mulheres (e homens! que também podem ter um câncer
mamário) é a insegurança pelo amanhã. “O que vai acontecer comigo? Vou viver?
Morrer? Vou sofrer? O que será de minha família?...”
·
Pedir
ajuda, aceitar ajuda. É um bem necessário. Principalmente quando enfrentamos
uma doença. Seja qual for antes de termos detalhes sobre o estadiamento (em que
fase a doença está no meu organismo? tem como tratar? tem possibilidade de
cura? quais as chances de dar certo?). A ajuda pode vir do médico, do
psicólogo, da enfermeira, do assistente social... e dos familiares. Quem ama a
gente é quem a gente mais costuma ouvir.
Deise (linda senhora em seus 67 anos, já com 2 bisnetos) estava divorciada há
cerca de 8 anos. E acabara de concordar com outras três amigas a fazer sua
primeira viagem pela Europa (mesmo diante da crise por lá). Mas, conhecer Paris
era um sonho de menina. E agora...
Ela, com
diagnóstico tardio de câncer de mama (infelizmente é o que mais frequentemente
acontece ainda no Brasil), decidiu, mesmo assim, viajar (depois de conversar com
o médico). Para sua surpresa, as amigas não suportaram a notícia. E se
afastaram.
·
É
comum alguns amigos se afastarem por não conseguirem lidar com a doença, com o
pré-conceito que ainda ronda a palavra câncer, com o medo de perder o amigo ou
de que aquilo possa vir a acontecer com si próprio; mas é comum também, nesta
fase, fazer novos amigos. Aliás, o médico pode sugerir ao paciente que conheça
outras pessoas que estão passando pelo mesmo desafio e gente também que já
venceu o câncer. Ongs na área são boas fontes. Trocar experiências sempre ajuda.
Seis meses. É a
média de tempo que leva um tratamento de câncer de mama (medicamentos,
quimioterapia, radioterapia...). Portanto, não há condições de parar a vida. Como
enfrentar isso? O que fazer com os filhos? Contar às crianças, como? Em geral,
temos muitas dúvidas. Não há certo ou errado nesse processo. Cada um vai acabar
encontrando uma maneira que sente mais adequada e possível. De acordo,
inclusive, com o jeito de sua família... Mas, presenciei um caso (o da Cida,
que está curada do câncer de mama com acompanhamento há mais de 7 anos) que
vale a pena contar...
Cida
aos 47 anos foi diagnosticada. Precoce a idade dela e precoce a doença,
felizmente. A conheci numa sessão de quimioterapia, logo após entrevistar um
médico especialista para um documentário. E fiquei surpresa ao vê-la com uma
filha (de 7 anos). E as duas conversavam muito naturalmente, como se estivessem
em qualquer outro lugar... Tudo porque – disse-me – que ela já tinha contado à filha, na
primeira sessão, que “mamãe está fazendo isso porque é um remedinho que a mamãe
precisa porque a mamãe está dodói. Então está fazendo um tratamento pra ficar
boa. E por causa desse remédio, o cabelo vai cair....”
Ela foi, aos
poucos, sempre contando à menina o que ia ou poderia acontecer em cada fase. Foi
a maneira de Cida lidar com as fragilidades e acalmar um pouco seus sentimentos
que, como ela me disse, iam do céu ao inferno, muitas vezes, em fração de
segundos. Fácil? Não. Mas, enfrentado. E superado.
Em tempo: por hoje já falei demais. Depois, tá
prometido, faço um compilado sobre câncer de mama, formas de diagnosticar, de
tratar e sobre direitos. Mas, por hoje... é só. bjs.
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