quarta-feira, 29 de maio de 2013

O absurdo do outro lado do mundo.





Crianças paquistanesas já não estão mais em fila, com suas mães, para receber as gotinhas da vacina contra Poliomielite. 

A campanha foi suspensa ontem, 28, pela OMS (Organização Mundial da Saúde) depois que extremistas mataram uma funcionária do programa e feriram outra. Em dezembro, nove agentes de vacinação já haviam sido mortos por atiradores.


Um absurdo sem tamanho. Mas com precedentes. Desta vez, no Paquistão – onde a pólio é endêmica – grupos radicais espalharam o boato de que a campanha de vacinação é um golpe da CIA para tornar homens e mulheres estéreis. Já na Nigéria, além de espalharem o boato da esterilização, disseminaram que a vacina estaria contaminada pelo vírus da Aids. Isso foi em 2003. O que se sabe é que ações desse tipo espalharam o vírus a países vizinhos. E inviabilizam a meta de erradicação da doença.


No Brasil.

O último caso de poliomielite diagnosticado por aqui foi em 1990. Esse controle é creditado à vacina oral (VOP), que todos conhecem como Sabin, de vírus atenuado (criada pelo cientista americano Albert Sabin na década de 1950).

O Zé Gotinha, personagem veiculado às campanhas vacinais, já cumpriu seu papel. O que muitos ainda não sabem é que o mais adequado a partir de agora (no calendário oficial desde 2012) é adotar uma outra vacina contra a poliomielite, a injetável (VIP), com vírus mortos, criada por outro americano, Jonas Salk.

Isso vem sendo informado pela médica dra Lúcia Bricks, que já fez parte da Comissão Permanente de Assessoramento em Imunizações da Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo, muito antes dela assumir a diretoria de Saúde Pública da Sanofi Pasteur. O motivo – lembro-me bem de uma explicação do dr Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações – é que esse vírus da vacina oral está apenas atenuado. O que significa? que ele pode sofrer mutação e tornar a ficar ativo.

E?... há brasileiros, hoje, adultos, que sofrem da chamada Síndrome Pós-Poliomielite, paralisia associada aos vírus vacinais e circulantes derivados da vacina oral.

Síndrome Pós-Poliomielite.

Ou seja, uma pessoa que tomou as gotinhas enquanto criança pode ter efeitos tardios da Poliomielite. Aos 30, 40 anos de idade, a pessoa pode começar a sentir dor, ter atrofias musculares, ficar intolerante ao frio, sentir-se ansiosa, cansada e deprimida. 

São muitos casos? Em geral não. Mas, primeiro: quem tem a síndrome enfrenta muitas dificuldades, muda a vida de uma hora pra outra, muitos deixam de trabalhar, passam a depender de outros, tem grandes prejuízos; e ainda: se já existe uma vacina capaz de prevenir a doença e evitar a SPP, qual a razão de manter o risco? Aliás, essa possibilidade, diga-se, existe também desde 1950!

Como até então o investimento foi todo em doses orais (pela facilidade de produção, distribuição e aplicação), claro que é preciso planejar essa migração para atender a demanda e a necessidade de prevenção.

Nem todo médico, nem todo paciente, conhecem bem essa Síndrome Pós-Pólio. Quem se interessar ou precisar pode buscar informação, ajuda, enfim, numa entidade que congrega médicos, profissionais de saúde, pacientes, familiares. É a ABRASSP (Associação Brasileira de Síndrome Pós-Poliomielite), que fica em São Paulo, mas pode ser acessada pelo site: http://www.abraspp.org.br/



Transmissão e sintomas:

A Poliomielite é doença contagiosa, transmitida por secreções respiratórias ou contato com água e alimentos contaminados, pois uma pessoa infectada pode transmitir a doença pelas fezes que pode contaminar o solo, a água, o meio ambiente – principalmente onde não há bom ou nenhum saneamento básico. Os sintomas como febre e dor de cabeça confundem-se com outras infecções. Só depois de alguns dias que a pessoa infectada começa a apresentar flacidez, um diferencial da doença. As pernas ficam fracas e começam a atrofiar. E dependendo do local que a infecção atinge a medula pode matar a pessoa. 


* Não estamos livres da Poliomielite. Mantemos comércio com várias nações e recebemos no país gente do mundo todo. Daí é fundamental manter as crianças imunizadas. E, de preferência, pela picada de uma injeção. Pode até causar uma dorzinha pela picada, mas protege o cidadão também contra o absurdo de se perceber, um dia, com a tragédia de uma síndrome pós-pólio!


terça-feira, 28 de maio de 2013

O 2o no Brasil!






No momento em que a atriz Angelina Jolie, 37 anos, retira as duas mamas (dupla mastectomia) para diminuir o risco de ter câncer de mama após ter feito um teste genético (é um teste para detectar mutações de genes que podem aumentar o risco da doença e que custa R$ 6 mil e só está disponível, por enquanto, em clínicas e hospitais particulares), e que sua tia morre, domingo passado, 26, em função da doença, depois de 6 anos da morte de sua mãe por câncer de ovário, lembrei de algumas mulheres muito especiais que entrevistei ao longo de minha trajetória na área de comunicação e educação em saúde. Mulheres lindas, fortes e com as quais aprendi e aprendo muito. Compartilho com vocês...



Atemoriza. Arrepia dos pés à cabeça. Essa é a sensação que ouvi de muitas mulheres que já entrevistei sobre câncer de mama. 


O primeiro sentimento é de revolta e incredulidade. “Por que eu fui escolhida? O que eu fiz de mal? Não mereço isso! Não pode estar acontecendo comigo. Logo agora?”. 

Num segundo momento o difícil é aprender a lidar com a inconstância. Um dia acorda até animada, querendo vencer tudo. Noutro, tá deprimida que não quer nem levantar pra tomar café. Muito menos para mais uma sessão de quimioterapia. 


Isaura (que conheci aos 52 anos) fez questão de dizer ao médico e à família que queria continuar trabalhando. Advogada num escritório paulista, com carreira respeitada pelo chefe, conseguiu compreensão e solidariedade no trabalho. Um dia, colocava a peruca (bem parecida ao cabelo original – que já havia caído pelo tratamento) e ia firme para uma reunião. Dois dias depois, com náuseas e muito enjôo, nem conseguia levantar da cama. Ao olhar-se no espelho: “O que tá acontecendo comigo? Não me reconheço mais!”...

·       Não se reconhece porque a mulher workaholic nunca se permitiu a isso. Ficar em casa em plena quarta-feira! Mas, é preciso reconhecer que passou de uma condição de pessoa saudável para a de uma pessoa doente. E que isso é uma fase. Nova, certamente. É um momento de aprender a se respeitar, a respeitar os próprios limites, saber que é um momento em que altos e baixos farão parte do período.


Outro sentimento comum compartilhado pelas mulheres (e homens! que também podem ter um câncer mamário) é a insegurança pelo amanhã. “O que vai acontecer comigo? Vou viver? Morrer? Vou sofrer? O que será de minha família?...” 

·       Pedir ajuda, aceitar ajuda. É um bem necessário. Principalmente quando enfrentamos uma doença. Seja qual for antes de termos detalhes sobre o estadiamento (em que fase a doença está no meu organismo? tem como tratar? tem possibilidade de cura? quais as chances de dar certo?). A ajuda pode vir do médico, do psicólogo, da enfermeira, do assistente social... e dos familiares. Quem ama a gente é quem a gente mais costuma ouvir.


Deise (linda senhora em seus 67 anos, já com 2 bisnetos) estava divorciada há cerca de 8 anos. E acabara de concordar com outras três amigas a fazer sua primeira viagem pela Europa (mesmo diante da crise por lá). Mas, conhecer Paris era um sonho de menina. E agora... 


Ela, com diagnóstico tardio de câncer de mama (infelizmente é o que mais frequentemente acontece ainda no Brasil), decidiu, mesmo assim, viajar (depois de conversar com o médico). Para sua surpresa, as amigas não suportaram a notícia. E se afastaram. 

·       É comum alguns amigos se afastarem por não conseguirem lidar com a doença, com o pré-conceito que ainda ronda a palavra câncer, com o medo de perder o amigo ou de que aquilo possa vir a acontecer com si próprio; mas é comum também, nesta fase, fazer novos amigos. Aliás, o médico pode sugerir ao paciente que conheça outras pessoas que estão passando pelo mesmo desafio e gente também que já venceu o câncer. Ongs na área são boas fontes. Trocar experiências sempre ajuda.


Seis meses. É a média de tempo que leva um tratamento de câncer de mama (medicamentos, quimioterapia, radioterapia...). Portanto, não há condições de parar a vida. Como enfrentar isso? O que fazer com os filhos? Contar às crianças, como? Em geral, temos muitas dúvidas. Não há certo ou errado nesse processo. Cada um vai acabar encontrando uma maneira que sente mais adequada e possível. De acordo, inclusive, com o jeito de sua família... Mas, presenciei um caso (o da Cida, que está curada do câncer de mama com acompanhamento há mais de 7 anos) que vale a pena contar...

Cida aos 47 anos foi diagnosticada. Precoce a idade dela e precoce a doença, felizmente. A conheci numa sessão de quimioterapia, logo após entrevistar um médico especialista para um documentário. E fiquei surpresa ao vê-la com uma filha (de 7 anos). E as duas conversavam muito naturalmente, como se estivessem em qualquer outro lugar... Tudo porque – disse-me  – que ela já tinha contado à filha, na primeira sessão, que “mamãe está fazendo isso porque é um remedinho que a mamãe precisa porque a mamãe está dodói. Então está fazendo um tratamento pra ficar boa. E por causa desse remédio, o cabelo vai cair....”

Ela foi, aos poucos, sempre contando à menina o que ia ou poderia acontecer em cada fase. Foi a maneira de Cida lidar com as fragilidades e acalmar um pouco seus sentimentos que, como ela me disse, iam do céu ao inferno, muitas vezes, em fração de segundos. Fácil? Não. Mas, enfrentado. E superado.


Em tempo: por hoje já falei demais. Depois, tá prometido, faço um compilado sobre câncer de mama, formas de diagnosticar, de tratar e sobre direitos. Mas, por hoje... é só. bjs.


segunda-feira, 27 de maio de 2013

De olho nos planos de saúde!



Quem já não enfrentou um problema com plano de saúde? Eu já tive que brigar com o plano e providenciar muitos relatórios médicos para cobrir o 2º pino de uma cirurgia no joelho de um familiar. O primeiro pino, tudo bem. Mas, o segundo... foi uma batalha!

                        (vc já enfrentou algum dilema com seu plano de saúde??)

A briga também se dá entre os profissionais de saúde, prestadores de serviços e operadores. E a encrenca não é pequena. A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), desde 2004, já emitiu 
R$ 300 milhões em representações por falha em contratos. Esse montante pode virar multa.

E acaba de desenvolver uma cartilha de orientação justamente sobre as normas que regem contratos e reajuste de honorários e procedimentos. O Guia Prático da Contratualização está disponível para dowload no site www.ans.gov.br.

Propaganda.

O Ministério da Saúde investiu, agora em maio, R$ 10 milhões. Um filme com o ator Milton Gonçalves para alertar o seguinte: que quem paga um plano quer serviço de qualidade; que o governo tá adotando medidas para ajudar nesse processo; e que o cidadão deve denunciar irregularidades.



O problema é que o MS divulga o telefone do SUS – 136. 

E não o da Agência Nacional de Saúde Suplementar – 0800 7019656, órgão que tem o objetivo de regular e fiscalizar os planos de saúde.

Tanto que o próprio MS – dias após campanha no ar – passou a redirecionar as ligações sobre o tema do Disque 136 para a ANS. 



Liguei agora há pouco pra lá, e uma gravação diz claramente isso. E mais: informa ainda que “para contatos futuros sobre planos de saúde entre em contato diretamente com a ANS”. (o ideal é que a gravação já divulgasse também o fone 0800 p/ facilitar a denúncia do usuário).







No twitter hoje! 

@padilhando Vale rever assessoria em campanha publicitária do MS! Ter de corrigir 136 após investir 10 milhões? Depõe contra bom trabalho!


@linamenezes1, vimos que tuitou ao ministro @padilhando. Informamos que é competência do @minsaude promover, (cont) tl.gd/n_1rkgvdu

(conteúdo do twitter longo na resposta do MS):
@linamenezes1, vimos que tuitou ao ministro @padilhando. Informamos que é competência do @minsaude promover, zelar e garantir o atendimento de qualidade a população brasileira, de acordo com um dos objetivos do Plano Nacional de Saúde aprovado pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS). A veiculação dessas peças contribui para auxiliar a população a fiscalizar, sugerir e, se necessário, prestar queixas e denúncias. 

Ressaltamos que foi veiculado o 136 em função da facilidade que o número proporciona ao cidadão, justamente por ser curto e de fácil memorização. As reclamações feitas pelo telefone 136 são redirecionadas automaticamente ou após processadas na ouvidoria do Ministério. Na primeira semana de divulgação da campanha em rede nacional, foi registrado aumento de 43% no número de queixas referentes ao não cumprimento dos prazos máximos de atendimento pelos planos de saúde em relação à média mensal de reclamações dirigidas ao número 0800 da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Como meio de garantir a participação social, o Ministério da Saúde criou a Ouvidoria Geral do SUS, por meio do telefone 136. Pelo serviço é possível realizar reclamações, sugestões, críticas, denúncias além de se informar sobre as áreas da saúde. A ANS, como órgão vinculado do Ministério, recebe rotineiramente demandas de usuários feitas pelo 136, mesmo antes do início da campanha publicitária. Continuamos à disposição para mais esclarecimentos. 


(minha resposta)
@minsaude @padilhando qto competência do MS não há dúvida. Mas, qto à propaganda então foi 'estratégico' usar o 136 p/redirecionar p/ 0800?!



*** continuo com muitas dúvidas. E de olho na saúde!

Faltam ou não médicos no Brasil?



Êta discussão que tem gerado muita polêmica. 

O Governo Federal quer ‘importar’ 6 mil médicos para assistir regiões carentes de profissionais. Instituições de saúde como Associação Paulista de Medicina, Conselhos de Medicina, Sociedades Médicas, Federação das Santas Casas, entre outras, até podem fazer vistas grossas para essa ‘importação’caso os profissionais vindos do exterior passem pelo Revalida (que avalia conhecimentos e habilidades na prática da medicina).

Há vários dilemas: dito pelo próprio Ministro Padilha, da Saúde, como a situação é urgente há que se flexibilizar esta regra, ou seja, os médicos – principalmente latinoamericanos – poderiam socorrer brasileiros, por tempo determinado, sem passar pelo tal exame; por outro lado, há movimentos que são contrários, não só a essa flexibilização, mas também à premissa de que faltam médicos no país; o próprio Revalida reprovou, ano passado, boa parte dos candidatos; há má distribuição de profissionais de saúde pelo país; concentração de faculdades de medicina em capitais, bem como de programas de reciclagem e treinamento profissionais; há, infelizmente, ainda uma desqualificação médica e de saúde no próprio atendimento hj em muitos dos serviços de saúde.

No meio dessa briga estão os brasileiros - a maioria dependente do SUS. Há quem sofre mesmo na periferia dos grandes centros, como São Paulo, Rio ou Minas. Dirá os que moram em regiões que não tem nenhum médico! Sabemos o que isso significa? Ter uma dor de barriga ou uma fratura ou um câncer se instalando... sem possibilidade de atendimento, diagnóstico e tratamento adequados, e em tempo?