Crianças
paquistanesas já não estão mais em fila, com suas mães, para receber as
gotinhas da vacina contra Poliomielite.
A campanha foi suspensa ontem, 28, pela
OMS (Organização Mundial da Saúde) depois que extremistas mataram uma
funcionária do programa e feriram outra. Em dezembro, nove agentes de vacinação
já haviam sido mortos por atiradores.
Um absurdo
sem tamanho. Mas com precedentes. Desta vez, no Paquistão – onde a pólio é
endêmica – grupos radicais espalharam o boato de que a campanha de vacinação é
um golpe da CIA para tornar homens e mulheres estéreis. Já na Nigéria, além de
espalharem o boato da esterilização, disseminaram que a vacina estaria
contaminada pelo vírus da Aids. Isso foi em 2003. O que se sabe é que ações
desse tipo espalharam o vírus a países vizinhos. E inviabilizam a meta de
erradicação da doença.
No Brasil.
O último
caso de poliomielite diagnosticado por aqui foi em 1990. Esse controle é
creditado à vacina oral (VOP), que todos conhecem como Sabin, de vírus atenuado
(criada pelo cientista americano Albert Sabin na década de 1950).
O Zé
Gotinha, personagem veiculado às campanhas vacinais, já cumpriu seu papel. O
que muitos ainda não sabem é que o mais adequado a partir de agora (no
calendário oficial desde 2012) é adotar uma outra vacina contra a poliomielite,
a injetável (VIP), com vírus mortos, criada por outro americano,
Jonas Salk.
Isso vem
sendo informado pela médica dra Lúcia
Bricks, que já fez parte da Comissão Permanente de Assessoramento em
Imunizações da Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo, muito
antes dela assumir a diretoria de Saúde Pública da Sanofi Pasteur. O motivo –
lembro-me bem de uma explicação do dr Renato
Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações – é que esse
vírus da vacina oral está apenas atenuado. O que significa? que ele pode sofrer
mutação e tornar a ficar ativo.
E?... há
brasileiros, hoje, adultos, que sofrem da chamada Síndrome Pós-Poliomielite, paralisia associada aos vírus vacinais e
circulantes derivados da vacina oral.
Síndrome Pós-Poliomielite.
Ou seja,
uma pessoa que tomou as gotinhas enquanto criança pode ter efeitos tardios da
Poliomielite. Aos 30, 40 anos de idade, a pessoa pode começar a sentir dor, ter
atrofias musculares, ficar intolerante ao frio, sentir-se ansiosa, cansada e
deprimida.
São muitos
casos? Em geral não. Mas, primeiro: quem tem a síndrome enfrenta muitas
dificuldades, muda a vida de uma hora pra outra, muitos deixam de trabalhar,
passam a depender de outros, tem grandes prejuízos; e ainda: se já existe uma
vacina capaz de prevenir a doença e evitar a SPP, qual a razão de manter o
risco? Aliás, essa possibilidade, diga-se, existe também desde 1950!
Como até
então o investimento foi todo em doses orais (pela facilidade de produção,
distribuição e aplicação), claro que é preciso planejar essa migração para
atender a demanda e a necessidade de prevenção.
Nem todo
médico, nem todo paciente, conhecem bem essa Síndrome Pós-Pólio. Quem se
interessar ou precisar pode buscar informação, ajuda, enfim, numa entidade que
congrega médicos, profissionais de saúde, pacientes, familiares. É a ABRASSP (Associação Brasileira de Síndrome
Pós-Poliomielite), que fica em São Paulo, mas pode ser acessada pelo site: http://www.abraspp.org.br/
Transmissão e sintomas:
A Poliomielite é doença contagiosa, transmitida
por secreções respiratórias ou contato com água e
alimentos contaminados, pois uma pessoa infectada pode transmitir a doença
pelas fezes que pode contaminar o solo, a água, o meio ambiente –
principalmente onde não há bom ou nenhum saneamento básico. Os sintomas como
febre e dor de cabeça confundem-se com outras infecções. Só depois de alguns
dias que a pessoa infectada começa a apresentar flacidez, um diferencial da
doença. As pernas ficam fracas e começam a atrofiar. E dependendo do local que
a infecção atinge a medula pode matar a pessoa.
* Não estamos livres da Poliomielite. Mantemos comércio com várias nações
e recebemos no país gente do mundo todo. Daí é fundamental manter as crianças
imunizadas. E, de preferência, pela picada de uma injeção. Pode até causar uma
dorzinha pela picada, mas protege o cidadão também contra o absurdo de se
perceber, um dia, com a tragédia de uma síndrome pós-pólio!